segunda-feira, 16 de julho de 2012

Primeiras letras - blogueiro por um dia

Ponto de vista - 16 jul. 2012


O texto abaixo foi publicado sexta-feira, dia 13 de julho de 2012, n'O GLOBO Online - seção "blogueiro por um dia" do blog do colunista Ancelmo Góis; e trata sobre a importância de ensinar às crianças o mundo da leitura. Os grifos devem ser vossos.

* * * * *

PRIMEIRAS LETRAS

por Anderson Moura


“Os livros não mudam o mundo, quem muda o mundo são as pessoas. Os livros só mudam as pessoas” (Mário Quintana). 


Vemos o planeta em ebulição; gente nos quatro cantos do mundo, conectadas nas redes sociais, organizando protestos e derrubando governos autoritários e intolerantes... Mas e no caso do Brasil? Falta muito para vencermos o maior entrave às engrenagens da igualdade social: a corrupção. Desta maneira, o mais importante é cultivarmos o não-conformismo e colaborarmos para que um número maior de pessoas seja capaz de ler o mundo e reinterpretá-lo à luz das mudanças necessárias. É justamente aí que reside o papel fundamental da educação e da promoção da leitura. 

Uma recente pesquisa divulgada no primeiro semestre pelo Instituto Pró-Livro diz que o brasileiro tem lido cada vez menos livros. Sinceramente, não é o que temos observado por aí... Além do mais, sabemos que quantidade de livros lidos não é quantidade de páginas. Vários dos livros que estão nas listas de mais vendidos há várias semanas são verdadeiros calhamaços. Um dos volumes de uma dessas séries juvenis de fantasia épica tem cerca de 900 páginas! No Skoob (Do inglês ‘books’. Livros, de trás para frente) – a rede social dos aficcionados em livros – constatamos que os títulos de ficção de bruxinhos e vampiros estão entre os mais lidos na atualidade; e, na vida real, facilmente podem ser encontrados nas carteiras de colégios, nas mãos de estudantes. Se despertarem o jovem para o hábito de leitura, certamente podem significar o ponto de partida para o contato com outros gêneros literários. 

O escritor e cartunista Ziraldo, autor de "O Menino Maluquinho", costuma dizer que “ler é mais importante do que estudar”. O dito já gerou polêmica entre educadores; mas concluímos que a afirmação é certeira, pois só gosta de estudar quem gosta de ler. Como podemos, então, incentivar de forma eficaz o gosto pela leitura? 

As primeiras letras devem ser incentivadas desde cedo, contando histórias para as crianças; presenteando-as com revistas de história em quadrinhos; apresentando-as o mundo dos livros; levando-as para conhecer uma biblioteca; ou dando a elas oportunidade de escolher um livro numa visita à livraria. A criança também crescerá aprendendo a gostar de ler, se ver os adultos praticando o mesmo hábito saudável; como a torcida do clube de futebol que cresce pela ação dos pais que vestem a camisa do time e presenteiam seus filhos com ela desde o berço. São atividades nobres como plantar uma árvore e regá-la... sem elas não colheremos os frutos de uma sociedade melhor.

segunda-feira, 9 de julho de 2012

Leitura libertadora

Ponto de vista - 09 jul. 2012

Destacamos, a seguir, um artigo de Martha Medeiros, publicado ontem em sua coluna da dominical revista O GLOBO (p. 24) do jornal de mesmo nome, intitulado "Livro, um alvará de soltura". Ela fala da polêmica medida que agora permite aos presos federais reduzirem sua pena lendo livros e também incentiva seus leitores a doarem os livros que só enfeitam as estantes. Os grifos são nossos:

"Costumo brincar dizendo que, para conseguir ler todos os livros que me enviam, só se eu pegasse uma prisão perpétua. Pois é de estranhar que, habituada a fazer essa conexão entre isolamento e livros, tenha me passado despercebida a matéria que saiu recentemente nos jornais (da qual fui gentilmente alertada por uma leitora) de que os detentos de penitenciárias federais que se dedicarem à leitura de obras literárias, clássicas, científicas ou filosóficas poderão ter suas penas reduzidas. A cada publicação lida, a pena será diminuída em quatro dias, de acordo com a Portaria 276 do Departamento Penitenciário Nacional (Depen). No total, a redução poderá chegar a 48 dias em um ano, com a leitura de até 12 livros. Para provar que leu mesmo, o detento terá que elaborar uma resenha que será analisada por uma comissão de especialistas em assistência penitenciária.

A ideia é muito boa, então, por favor, não compliquem. Não exijam resenha (eles lá sabem o que é resenha?) nem nada assim inibidor. Peçam apenas que o sujeito, em poucas linhas, descreva o que sentiu ao ler o livro, se houve identificação com algum personagem, algo bem simples, só para confirmar a leitura. Não ameacem o pobre coitado com palavras difíceis, ou ele preferirá ficar encarcerado para sempre.

Há presos dentro e fora das cadeias. Muito adolescente está preso a maquininhas tecnológicas que facilitam a conexão com os amigos, mas não consigo mesmo. Adultos estão presos às telenovelas e aos reality shows quando poderiam estar investindo o tempo em algo muito mais libertador. Milhares de pessoas acreditam que ler é difícil, ler é chato, ler dá sono, e com isso atrasam seu desenvolvimento, atrofiam suas ideias, dão de comer a seus preconceitos, sem imaginar o quanto a leitura os libertaria dessa vida estreita.

Ler civiliza.

Essa boa notícia sobre atenuação de pena é praticamente uma metáfora. Leitura = liberdade. Não é preciso ser um criminoso para estar preso. O que não falta é gente confinada na ignorância, sem saber como escrever corretamente as palavras, como é viver em outras culturas, como deixar o pensamento voar. Um livro é um passaporte para um universo rico e irrestrito. O livro é a vista panorâmica que o presídio não tem, a viagem ao redor do mundo que o presídio impede. O livro transporta, transcende, tira você de onde você está.

Por receber uma quantidade inquietante de livros, e sem ter onde guardá-los todos, costumo fazer doações para escolas e bibliotecas com frequência. Poucos meses atrás, doei alguns exemplares para um presídio do Rio de Janeiro, e sugiro que todas as pessoas que tenham livros servindo de enfeite em casa façam o mesmo. Que se cumpram as penas, mas que se deixe a imaginação solta."


domingo, 8 de julho de 2012

Impressos e profecias

Ponto de vista - 08 jul. 2012

Trazemos o artigo da colunista Míriam Leitão, em parceria com Valéria Maniero, intitulado "Jornal de papel", publicado hoje na página 30 do jornal O GLOBO. Elas dissertam sobre a insistente polêmica do possível fim do jornal e do livro impressos, diante da tecnologia digital. Os grifos são nossos:

"O jornal vai morrer. É a ameaça mais constante dos especialistas. E essa nem é uma profecia nova. Há anos a frase é repetida. Jornais desaparecem em vários países, tiragens diminuem, redações emagrecem. O tempo que o leitor, em média, fica diante de um exemplar encurta. Experiências são feitas para atrair leitores na era da comunicação nervosa, rápida, multicolorida, performática. Mas o que é o jornal? Onde mora seu encanto?

O que é sedutor no jornal é ser ele mesmo e nenhum outro formato de comunicação de ideias, histórias, imagens e notícias. No tempo das muitas mídias, o que precisa ser entendido é que cada um tem um espaço, um jeito, uma personalidade. O pior erro que se pode cometer é um meio negar sua própria natureza e tentar ser outro dos muitos seres que povoam esse mundo, seres que agora se multiplicam.

É intenso o mundo da comunicação de hoje e não permite muitos erros. Trabalha-se num meio mutante e desafiador. Quando surge uma nova mídia, há sempre os que a apresentam como tendência irreversível, modeladora do futuro inevitável e fatal. Depois se descobre que nada é substituído e o novo se agrega ao mesmo conjunto de seres através dos quais nos comunicamos.

O livro vai morrer, dizem os mesmos especialistas que atestam o fim dos jornais. E o livro migra, muda e fica. Parati e para mim. Fica em papel ou em meio digital, como um dia foi pergaminho, papiro. Os livros têm o encantamento eterno que faz, ainda hoje, jovens disputarem concursos literários, pessoas de todas as idades circularem por festivais como a Flip — ou Clip, como diria Verissimo — e as bienais. Livros forjam pessoas, personalidades e sensações; marcam momentos e etapas da vida.

A biblioteca da exposição “Humanidades” foi formada pela mesma pergunta feita a pessoas de áreas diferentes: que livros influenciaram sua formação? Há pessoas que diante dessa pergunta podem até ficar constrangidas. Há outras que souberam os marcos do caminho da sua própria construção.

Leitora compulsiva de jornais desde a infância, não saberia viver sem eles. Leitora obsessiva de livros, só fiquei sem eles uma única vez na minha vida e foi sob a mira de armas. Na prisão, fui impedida de ler. Fazia parte do tormento. No longo silêncio sem livros, sem jornais, eu lembrava trechos dos livros mais amados. “Diadorim, meu diadorim”. E me sentia liberta.

Migrante por todas as mídias, conheço a força e o jeito de cada uma. Jornal, rádio, televisão, revista, blogs, sites, twitter e tudo o que mais vier. Aqui, neste matutino carioca, começou este ano um produto vespertino específico para tablets. E ele é diferente de todas as outras mídias e preenche um vazio que nem se sabia que existia. Isso é que é curioso. A tecnologia de comunicação inventa a estrada e logo surgem produtos novos de comunicação. E tudo que circula é o mesmo e é diferente. É notícia, imagem parada ou em movimento, ideia, reflexão, opinião.

Sempre aparecem os que garantem que um meio está morrendo, porque o outro nasceu e, na verdade, eles todos convivem. E a mudança continua em ritmo veloz. Quem não se lembra do vaticínio sobre o rádio? Tudo fica e muda. Essa é a natureza da era da comunicação vertiginosa.

Quando criança, eu me sentava ao lado do meu pai, assim que o jornal chegava, e colhia os suplementos que caíam do seu primeiro olhar, e depois vasculhava as partes centrais já lidas por ele. Lembro desses momentos com ternura. Da leitura conjunta brotavam discussões acaloradas sobre nossas divergências de opinião. Assim cresci.

Sábado passado eu estava mergulhada na leitura dos jornais, quando Mariana, minha neta de seis anos, acomodou-se ao meu lado no sofá, imitando meu jeito de sentar e perguntou:

— E o meu?

— O seu o quê?

— O meu jornal!

Dei para ela o Globinho, o Estadinho. Não achei a Folhinha.

A cara dela de satisfação era de derrubar as convicções sobre o fim iminente do jornal. Daniel, meu neto de dois anos, chegou exigindo o seu exemplar de uma forma, digamos, insistente. As páginas terminaram partidas.

Os jornais vão acabar, garantem os especialistas. E, por isso, dizem que é preciso fazer jornal parecer com as outras formas da comunicação mais rápida, eletrônica, digital. Assim, eles morrerão mais rapidamente. Jornal tem seu jeito. É imagem, palavra, informação, ideia, opinião, humor, debate, de uma forma só dele.

Todos os jornais passaram a ter sites onde as notícias se movem o dia inteiro e as imagens em movimento se misturam a fotos. E como todos os sites estão olhando todos os sites, eles vão mudando o dia inteiro. Um copiando o outro. Dias atrás, vi um em que uma notícia começava em português e terminava em espanhol; um ideal há muito sonhado no mundo ibero-americano: a fusão dos dois idiomas.

Nesse tempo tão mutante em que se tuíta para milhares, que retuítam para outros milhares o que foi postado nos blogs, o que está nos sites dos veículos online, que chance tem um jornal de papel que traz uma notícia estática, uma foto parada, um infográfico fixo?

Terá mais chance se continuar sendo jornal.
"