quarta-feira, 28 de dezembro de 2011

Os Arquivos de Sherlock Holmes - resenha



Os arquivos de Sherlock Holmes
Sir Arthur Conan Doyle
Martin Claret
228 páginas. R$ 17,50.
www.martinclaret.com.br


“... era brasileira de nascimento... Filha do sol e da paixão. Ela o amou como só essas mulheres podem amar.” (O problema da ponte Thor)

Assim Arthur Conan Doyle, um escritor e médico nascido em Edimburgo (Escócia) no ano de 1859, descreve a única personagem brasileira da obra que resenhamos. A fama desse autor deve-se, certamente, por suas obras cujo personagem principal é o detetive Sherlock Holmes; embora, além da literatura criminal, também tenha escrito peças de teatro, poesias e obras de não-ficção; entre outros gêneros.

“Os arquivos de Sherlock Holmes”, publicado pela editora Martin Claret, é uma tradução de Casemiro Linarth da obra de título original “The Case-Book of Sherlock Holmes”, uma coleção de contos publicados pela primeira vez entre 1921 e 1927 em revistas da Inglaterra e dos EUA. Foi a derradeira obra do autor sobre Sherlock Holmes, personagem o qual ele já havia “matado” em 1893, mas que decidira “ressuscitar” em 1903, após uma enxurrada de apelos de seus fiéis leitores.

Como nos quatro romances e nos outros quatro contos que formam o chamado cânone do personagem, ficamos em grande expectativa durante o desenvolvimento da narrativa, tentando, nós mesmos, encontrar as pistas e desvendar os mistérios; mas o grande detetive sempre nos surpreende. Sherlock Holmes é sempre procurado por seus clientes devido a sua fama e reconhecimento. No conto “Os três Garriders”, o personagem seu amigo, dr. Watson, narra que Holmes teria recusado o título de cavaleiro em 1902. Uma brincadeira perspicaz, pois foi exatamente o ano em que o autor do conto foi condecorado com tal título, passando a ser chamado de Sir Arthur Conan Doyle.

Chama-nos atenção, como casos, digamos, excepcionais, que dois contos são narrados pelo próprio protagonista, Sherlock Holmes: “O soldado pálido” e “A juba do leão”. O ritmo da narrativa é bem diferente dos casos narrados pelo seu (quase) inseparável amigo, Watson. Também damos destaque, neste último conto citado, ao trecho em que o sisudo celibatário Sherlock Holmes se encanta por mulher:

“Não se podia negar que ela embelezaria qualquer reunião no mundo. (...) Raras as vezes senti atração por mulheres, pois o cérebro sempre governou o meu coração, mas me bastou olhar aquele rosto perfeitamente delineado, delicadamente colorido pelo frescor suave das terras baixas, para compreender que nenhum jovem poderia atravessar-se no seu caminho e sair ileso”.

As mulheres ibero-americanas por sinal, com suas personalidades fortes, ganham destaque do autor em três contos: A brasileira citada no início, uma peruana (O vampiro de Sussex) e uma outra espanhola cuja família “governou Pernambuco durante gerações” (Os três frontões).

“A inquilina do rosto coberto” é um conto muito perspicaz, que foge de qualquer padrão pelo seu desfecho; pois nele Holmes age de forma diferente. No mesmo conto, e num outro (O velho solar de Shoscombe), alguns crimes não são necessariamente punidos.

Holmes, como conhecemos de outras obras, não se importa em receber os créditos por decifrar os mistérios, mas trabalha mesmo pelo desafio mental do método da lógica dedutiva. No ótimo conto “Cliente Ilustre”, o que o motiva é o desafio:

“Se é mais perigoso que o Prof. Moriarty vale a pena conhecê-lo”.

Não é a toa que CSI é a série mais vista em todo o mundo nos dias de hoje. Tal qual Batman, o famoso herói dos quadrinhos e do cinema, tiveram no personagem Sherlock Holmes sua referência; e conquistam mais fãs a cada dia.

Perto da estréia de mais um filme sobre Sherlock Holmes no cinema, recomendamos a leitura da obra do Sir Arthur Conan Doyle. Sempre, sempre o livro será melhor. O hábito de leitura nunca deve ser deixado de lado, preterido pela televisão ou pela tela grande. O personagem Sherlock Holmes, inclusive, valoriza a cultura geral... De tudo se dever ler um pouco. Em vários contos, ele encontra nos livros as chaves para desvendar os mais intrincados mistérios:

“Sou um leitor que devora tudo. (...) Eu sabia que tinha lido em alguma parte num contexto inesperado.” (A juba do leão).

Assim também o é em nossas vidas. O livro muda as pessoas porque as ajuda a decifrar o mundo.

sábado, 24 de dezembro de 2011

Feliz Natal, como no ano passado

Ponto de vista - 24 dez. 2011

Na véspera do Natal deparei-me com a deliciosa crônica de Zuenir Ventura, intitulada "Tudo sempre igual", publicada na página 7 d'O GLOBO de hoje; que, por isso, publico aqui. Deixamos, também, os nossos votos de um Feliz e hamornioso Natal. Os grifos são nossos:


"Vou me repetir mais uma vez. Todo ano é assim, parece reprise. Mas o que se há de fazer, se tudo nessa época é repetitivo: a música, a rabanada, os amigos-ocultos, os presentinhos, os votos, os engarrafamentos, o movimento das lojas, sem falar no dinheirinho compulsório para os porteiros, o mendigo de estimação, o guardador de carro, os entregadores de jornais, de remédio, de pizza, garis e carteiros. Contrariando o que dizia o famoso soneto de Machado de Assis —"Mudaria o Natal ou mudei eu?" — não mudou o Natal nem mudei eu. Ainda por cima, a data cai sempre nos dias em que tenho de escrever ou publicar coluna: no próprio dia 25, como em 2010, e na véspera, como agora. Como evitar o tema?

A exemplo dos Natais anteriores, o tempo e a paciência foram poucos para cumprir todos os compromissos de fim de ano, já não digo de compras, que minha mulher faz, mas o atendimento de convites. Parece que todos os lançamentos, todas as noites de autógrafos, todas as exposições, todos os almoços e jantares de confraternização foram deixados para acontecer nesse período. Não poder ir a todos, ter que escolher uns em detrimento de outros é uma das aflições dessa época. Mas o pior do Natal é sua submissão ao consumo, o que acaba fazendo dele "um orçamento", como já dizia Nelson Rodrigues.

Graças a isso, é a mais colonizada de nossas principais efemérides, a começar pelo Papai Noel. Não há figura mais inverossímil e anacrônica, inclusive pelo traje, do que o bom velhinho todo agasalhado, com aquele gorro ridículo, arrastando o saco nas costas no calor deste começo de verão e rosnando "Rou, rou, rou". No entanto, continua popular. Piegas e cafona, mas popular, mesmo entre os que não acreditam nele. Por que será? Talvez seja porque, se o réveillon é a euforia, e o carnaval, a orgia, o Natal é o eterno retorno à infância — o momento da fantasia, do faz de conta.

A verdade é que, apesar do desvirtuamento de sentido, a data continua impregnada de simbologia e significados, carregando sonhos, desejos e esperança, tudo do que se precisa. Eu, por exemplo, não consigo deixar de fazer uma viagem nostálgica a um longínquo passado sempre que ouço o "Noite feliz". É como se, ainda coroinha, estivesse ajudando uma missa de meia-noite rezada em latim, claro, no colégio de padres de Ponte Nova, em Minas Gerais.

Comecei repetindo e vou terminar da mesma maneira, desejando para vocês um nada original, mas sincero feliz Natal."

quinta-feira, 15 de dezembro de 2011

Quantos livros você lê por ano?

Ponto de vista - 15 dez. 2011

A matéria de André Miranda, intitulada "O longo caminho até as metas do MinC ", publicada na página 12 do Segundo Caderno d'O GLOBO de hoje, sobre o anuncio das metas do governo federal expressas no Plano Nacional de Cultura, dá números alarmantes sobre a falta de hábito de leitura do brasileiro em geral. A média de livros lidos anualmente, digamos, por prazer, não chega a dois; quando o mínimo ideal, seriam quatro. Os grifos são nossos:


"[...] uma das metas do PNC [Plano Nacional de Cultura] é que todos os municípios brasileiros tenham uma biblioteca pública. Até o fim do ano, de acordo com a Fundação Biblioteca Nacional, apenas 18 dos 5.565 municípios brasileiros ainda não terão recebido o kit para a implantação de suas bibliotecas, o que deve acontecer em 2012. A partir do recebimento do kit, os municípios têm três anos para implantar sua biblioteca. Atualmente, há 5.530 bibliotecas públicas no país.

Além da presença física, outra meta do PNC é que cada brasileiro leia quatro livros por ano, sem contar aqueles do aprendizado formal.

— Para se chegar à meta, será preciso trabalhar muito. Hoje, a média é de 1,3 livro lido por ano entre não estudantes — afirrna Galeno Amorim , presidente da Biblioteca Nacional.— Mas é possível. Ao criarmos mais bibliotecas, ampliarmos os pontos de venda e baratearmos os preços, o índice de leitura vai aumentar — promete."

domingo, 11 de dezembro de 2011

Livros: afeto e provocação

Ponto de vista - 11 dez. 2011

Ansioso para ler "O Cemitério de Praga" (Record, 480p.), gostei muito da entrevista concedida pelo escritor Umberto Eco ao jornalista Guilherme Aquino, publicada hoje na página 4 do Segundo Caderno d'O GLOBO sob o título "O mestre dos livros". Destaco as respostas para duas perguntas da dita entrevista. Os grifos são nossos:


"O senhor gosta de desafiar o leitor com fatos e palavras...

- Somos 7 bilhões no mundo, então o número dos meus leitores é mínimo, mas alguns querem um desafio, querem que um livro seja uma provocação para a inteligência, um esforço. Os editores acham que o leitor quer coisas fáceis. Mas, para isso, ele já tem a televisão. Ninguém consegue explicar por que o único livro fácil que escrevi, "A misteriosa chama da Rainha Loana" (2004), não interessou a ninguém. Tudo chega mastigado. Escrevo para os masoquistas que querem ser maltratados.


Qual é a sua relação com a tecnologia? Acredita que o livro em papel resistirá?

- O livro de papel tem ainda um destino a ser cumprido, pelo menos no sentido técnico. Temos a prova científica de que um livro de papel dura 550 anos. Eu tenho na minha biblioteca livros produzidos cinco séculos atrás. Não temos ainda a capacidade de provar que um material eletrônico dure mais do que X anos, mas certamente não será de 500 anos, porque existe uma renovação contínua. Há ainda o fato de que você encontra no porão de casa o livro que leu quando tinha 10 anos, com os seus sinais nas margens... Se amanhã encontrar no porão um pen-drive, ele não vai lhe dizer nada. Com o livro, se estabelece uma relação física, carnal, afetiva. Enfim, é muito melhor para uma criança levar para a escola um iPad com os dicionários do que levar todos os volumes nas costas. Mas é muito difícil ler "Guerra e paz" num e-book. Com o tempo, mudei levemente de opinião. Recentemente fiz viagens de 20 dias e levei 20 livros pesados. Na segunda vez, carreguei 20 livros no iPad."

segunda-feira, 5 de dezembro de 2011

Tempo desperdiçado deve ser indenizado

Ponto de vista - 05 dez. 2011

Muito útil para consumidor a matéria assinada por Nadja Sampaio, intitulada "Livro defende indenização por desperdício de tempo ", publicada na página 42 do d'O GLOBO do último Domingo sem o destaque que merecia. Os grifos são nossos:


"Existe um novo e relevante dano no mercado de consumo, que até agora foi desprezado pelo Direito: o tempo que o consumidor perde para reclamar seus direitos deve ser indenizado, pois tem um impacto negativo na sua vida. A tese defendida pelo advogado Marcos Dessaune no livro "Desvio produtivo do consumidor" diz que este, quando precisa resolver uma reclamação, vê-se forçado a desperdiçar seu tempo - desviando-se de atividades como trabalho, estudo, descanso, lazer - para tentar resolver problemas que o fornecedor tem o dever de não causar.

Ter que retornar diversas vezes à loja ou à assistência técnica para reclamar de um produto com defeito pouco tempo depois de comprado: telefonar insistentemente para o SAC de uma empresa para cancelar um serviço não solicitado ou urna cobrança indevida e levar o carro várias vezes à oficina são alguns exemplos citados no livro.

- Tais situações corriqueiras ainda não haviam merecido a devida atenção do Direito brasileiro. Embora causem grande prejuízo ao consumidor, trata-se de fatos lesivos que não se enquadram nos conceitos tradicionais de dano material indenizável, de perda de uma chance, tampouco podem ser banalizados como meros dissabores ou percalços na vida do consumidor, como vêm entendendo muitos juízes e tribunais - explica.

Segundo Dessaune, a missão de qualquer fornecedor é oferecer produtos e serviços de qualidade, condição essencial para que o consumidor possa empregar seu tempo nas atividades de sua preferência.

- Constatei em minha pesquisa que o tempo de que a pessoa dispõe na vida caracteriza-se pela escassez, inacumulabilidade e irrecuperabilidade. Trata-se do bem primordial e possivelmente mais valioso da pessoa, só comparável à sua saúde física e mental. Segundo averiguei, o novo paradigma de investigação do dano injusto em lugar do tradicional ato ilícito, no âmbito da responsabilidade civil contemporânea, possibilitaria a ampliação das hipóteses de danos indenizáveis, como as situações de desvio produtivo do consumidor— diz."

domingo, 4 de dezembro de 2011

TV e controle

Ponto de vista - 04 dez. 2011

Entre as várias cartas de leitores publicadas na página 8 d'O GLOBO de hoje (04 dez. 2011) , destaco a de Erico Tachizawa - intitulada
"A TV e as crianças". Concordo com ele. Os grifos são nossos:


"Em nome da liberdade de expressão, cenas impróprias para a formação de nossos filhos poderão vir a ser transmitidas em qualquer horário, pelas emissoras de TV. O argumento de que cabe aos pais fazerem esse controle é falacioso, já que os responsáveis, em sua maioria, trabalham fora e chegam em casa à noite. Além disso, quantos terão o discernimento de um juiz para ler as mensagens nocivas que muitas vezes aparecem ocultas na programação? E como devem proceder quando uma cena que julgarem imprópria aparecer em um inofensivo programa a que estejam assistindo? Devem desligar a TV com a rapidez de um raio ou mandar seus filhos menores saírem imediatamente da sala e só retornarem após os comerciais? - Paulo Marcus Sampaio Eloy (Rio)"