sábado, 24 de dezembro de 2011

Feliz Natal, como no ano passado

Ponto de vista - 24 dez. 2011

Na véspera do Natal deparei-me com a deliciosa crônica de Zuenir Ventura, intitulada "Tudo sempre igual", publicada na página 7 d'O GLOBO de hoje; que, por isso, publico aqui. Deixamos, também, os nossos votos de um Feliz e hamornioso Natal. Os grifos são nossos:


"Vou me repetir mais uma vez. Todo ano é assim, parece reprise. Mas o que se há de fazer, se tudo nessa época é repetitivo: a música, a rabanada, os amigos-ocultos, os presentinhos, os votos, os engarrafamentos, o movimento das lojas, sem falar no dinheirinho compulsório para os porteiros, o mendigo de estimação, o guardador de carro, os entregadores de jornais, de remédio, de pizza, garis e carteiros. Contrariando o que dizia o famoso soneto de Machado de Assis —"Mudaria o Natal ou mudei eu?" — não mudou o Natal nem mudei eu. Ainda por cima, a data cai sempre nos dias em que tenho de escrever ou publicar coluna: no próprio dia 25, como em 2010, e na véspera, como agora. Como evitar o tema?

A exemplo dos Natais anteriores, o tempo e a paciência foram poucos para cumprir todos os compromissos de fim de ano, já não digo de compras, que minha mulher faz, mas o atendimento de convites. Parece que todos os lançamentos, todas as noites de autógrafos, todas as exposições, todos os almoços e jantares de confraternização foram deixados para acontecer nesse período. Não poder ir a todos, ter que escolher uns em detrimento de outros é uma das aflições dessa época. Mas o pior do Natal é sua submissão ao consumo, o que acaba fazendo dele "um orçamento", como já dizia Nelson Rodrigues.

Graças a isso, é a mais colonizada de nossas principais efemérides, a começar pelo Papai Noel. Não há figura mais inverossímil e anacrônica, inclusive pelo traje, do que o bom velhinho todo agasalhado, com aquele gorro ridículo, arrastando o saco nas costas no calor deste começo de verão e rosnando "Rou, rou, rou". No entanto, continua popular. Piegas e cafona, mas popular, mesmo entre os que não acreditam nele. Por que será? Talvez seja porque, se o réveillon é a euforia, e o carnaval, a orgia, o Natal é o eterno retorno à infância — o momento da fantasia, do faz de conta.

A verdade é que, apesar do desvirtuamento de sentido, a data continua impregnada de simbologia e significados, carregando sonhos, desejos e esperança, tudo do que se precisa. Eu, por exemplo, não consigo deixar de fazer uma viagem nostálgica a um longínquo passado sempre que ouço o "Noite feliz". É como se, ainda coroinha, estivesse ajudando uma missa de meia-noite rezada em latim, claro, no colégio de padres de Ponte Nova, em Minas Gerais.

Comecei repetindo e vou terminar da mesma maneira, desejando para vocês um nada original, mas sincero feliz Natal."

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