domingo, 11 de dezembro de 2011

Livros: afeto e provocação

Ponto de vista - 11 dez. 2011

Ansioso para ler "O Cemitério de Praga" (Record, 480p.), gostei muito da entrevista concedida pelo escritor Umberto Eco ao jornalista Guilherme Aquino, publicada hoje na página 4 do Segundo Caderno d'O GLOBO sob o título "O mestre dos livros". Destaco as respostas para duas perguntas da dita entrevista. Os grifos são nossos:


"O senhor gosta de desafiar o leitor com fatos e palavras...

- Somos 7 bilhões no mundo, então o número dos meus leitores é mínimo, mas alguns querem um desafio, querem que um livro seja uma provocação para a inteligência, um esforço. Os editores acham que o leitor quer coisas fáceis. Mas, para isso, ele já tem a televisão. Ninguém consegue explicar por que o único livro fácil que escrevi, "A misteriosa chama da Rainha Loana" (2004), não interessou a ninguém. Tudo chega mastigado. Escrevo para os masoquistas que querem ser maltratados.


Qual é a sua relação com a tecnologia? Acredita que o livro em papel resistirá?

- O livro de papel tem ainda um destino a ser cumprido, pelo menos no sentido técnico. Temos a prova científica de que um livro de papel dura 550 anos. Eu tenho na minha biblioteca livros produzidos cinco séculos atrás. Não temos ainda a capacidade de provar que um material eletrônico dure mais do que X anos, mas certamente não será de 500 anos, porque existe uma renovação contínua. Há ainda o fato de que você encontra no porão de casa o livro que leu quando tinha 10 anos, com os seus sinais nas margens... Se amanhã encontrar no porão um pen-drive, ele não vai lhe dizer nada. Com o livro, se estabelece uma relação física, carnal, afetiva. Enfim, é muito melhor para uma criança levar para a escola um iPad com os dicionários do que levar todos os volumes nas costas. Mas é muito difícil ler "Guerra e paz" num e-book. Com o tempo, mudei levemente de opinião. Recentemente fiz viagens de 20 dias e levei 20 livros pesados. Na segunda vez, carreguei 20 livros no iPad."

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