quarta-feira, 28 de março de 2012

Os escritores brasileiros mais admirados pelos leitores

Os leitores entrevistados pelo Instituto Pró-Livro durante a pesquisa "Retratos da Leitura no Brasil", divulgada hoje, também responderam, de forma espontânea e com uma única opção, qual era o escritores brasileiro que mais admirava. O resultado foi o seguinte:

1) Monteiro Lobato
2) Paulo Coelho
3) Jorge Amado
4) Machado de Assis
5) Vinícius de Moraes
6) Cecília Meireles
7) Carlos Drummond de Andrade
8) Érico Veríssimo
9) José de Alencar
10) Maurício de Souza
11) Mário Quintana
12) Ruth Rocha
13) Zibia Gasparetto
14) Manuel Bandeira
15) Ziraldo
16) Chico Xavier
17) Augusto Cury
18) Ariano Suassuna
19) Paulo Freire
20) Edir Macedo
21) Castro Alves
22) Graciliano Ramos
23) Rachel de Queiroz
24) Luis Fernando Veríssimo
25) Clarice Lispector

51% dos leitores (48,5 milhões) souberam dizer o nome do autor brasileiro que admiram.

Os 4 escritores brasileiros mais votados receberam quase metade das indicações.

Os livros mais importantes na vida dos leitores brasileiros

O Instituto Pró-Livro divulgou hoje os resultados da pesquisa "Retratos da Leitura no Brasil". Diante da pergunta sobre qual era o livro mais importante em sua vida, cada leitor entrevistado respondeu de forma espontânea e com uma única opção. O resultado foi o seguinte:

1) Bíblia
2) O Sítio do Pica-pau Amarelo (OBS: Embora não conste da bibliografia brasileira, é uma referência à obra de Monteiro Lobato)
3) Chapeuzinho Vermelho
4) Harry Potter
5) Pequeno Príncipe
6) Os Três Porquinhos
7) Dom Casmurro
8) A Branca de Neve
9) Violetas na Janela
10) O Alquimista
11) Cinderela
12) Código Da Vinci
13) Iracema
14) Capitães de Areia
15) Ninguém é de Ninguém
16) O Menino Maluquinho
17) A Escrava Isaura
18) Romeu e Julieta
19) Poliana
20) Gabriela Cravo e Canela
21) Pinóquio
22) Bom Dia Espírito Santo
23) A Moreninha
24) Primo Basílio
25) Peter Pan
26) Vidas Secas
27) Carandiru
28) O Segredo
29) A Ilha Perdida
30) Meu Pé de Laranja Lima

Segundo a pesquisa, 59% dos leitores (56,2 milhões) souberam citar o livro mais marcante.

O número de citações da Bíblia é 10 vezes maior que a do 2º colocado.

Dois em cada três entrevistados (contando os não leitores) não souberam dizer ou não informaram um livro marcante.

quinta-feira, 16 de fevereiro de 2012

Livros nos cinemas

Ponto de vista - 16 fev. 2012

Destacamos o artigo intitulado "Filmes de Papel", da autoria de Cora Rónai, publicado hoje na página 12 do "Segundo Caderno" d'O GLOBO, que aborda sobre livros que se tornaram sucesso nos cinemas e vice-versa. Os grifos são nossos:


"É possível que eu só não tenha reparado antes, mas há tempos não via tantos filmes em cartaz nos cinemas fazendo sucesso, simultaneamente, nas livrarias: “Precisamos falar sobre o Kevin” e “A resposta” (“Histórias cruzadas”) ganharam novas edições com capas que remetem aos cartazes dos respectivos filmes, ao passo que “Compramos um zoológico” e “Os descendentes” já chegaram ao Brasil à luz da sua boa estrela hollywoodiana. Ainda não assisti a nenhum dos filmes, mas gostei dos livros, mesmo quando deixam a desejar — caso nítido de “Kevin”. Os quatro, juntos ou separados, fazem um kit perfeito para quem quer sumir do mundo durante o carnaval.

(Não, não me esqueci da nova versão de “Os homens que não amavam as mulheres”, da trilogia “Millennium” — mas este, para mim, é um caso complicado, porque acho que sou a única pessoa no mundo que não gostou dos livros e, menos ainda, da sua versão cinematográfica sueca. Ainda não tenho certeza se quero ver a versão americana.)

As relações entre filmes que nascem de livros e os livros que lhes dão origem são sempre delicadas. Os leitores que se tornam espectadores vão ao cinema para conferir como foi contada a história que já conhecem; os espectadores que se transformam em leitores se apegam aos livros para passar mais tempo na companhia de um filme que os encantou, e costumam reagir mal às diferenças entre o que está nas telas e o que está nas páginas. Leitores habituais tendem a gostar mais dos livros do que dos filmes, o que talvez se explique pelo ritmo e pelas características que a nossa imaginação confere à história escrita: ao ler um livro somos coautores da trama, dando forma a ambientes e personagens. Se o escritor menciona uma garrafa azul, por exemplo, existirão tantas garrafas azuis diferentes quanto leitores, ao passo que no cinema veremos, todos, a mesmíssima garrafa.

Meu livro favorito da atual leva cinematográfica é “A resposta”, título brasileiro para “The help”, que chegou às telas como “Histórias cruzadas” (Bertrand Brasil, tradução de Caroline Chang). Por atrapalhada que seja essa quantidade de títulos, ninguém precisa se preocupar: a editora percebeu a confusão potencial que tinha em mãos e deu um jeitinho de pôr todos eles na capa. Comecei a lê-lo em inglês, no Kindle; depois me lembrei que tinha a edição brasileira e fui atrás do livro “de verdade”. No livro-livro, tenho a exata noção de quanto falta para acabar a leitura, posso dar rasantes nos capítulos à frente e até uma lida em diagonal nas últimas páginas. Esse vaivém é muito chato, quando não impossível, num ebook. Mas “A resposta” é uma armadilha perigosa para um tradutor. Kathryn Stockett reproduz o dialeto dos negros do Sul dos Estados Unidos quando a história é contada pelas empregadas Aibileen e Minny. Caroline Chang, a tradutora, teve o bom senso de evitar linguagens diferenciadas, que soariam ridiculamente artificiais em português; o resultado é que, tendo pulado para a versão brasileira, não senti mais nenhuma saudade do original, e deixei o Kindle de lado.

A história, vocês sabem, gira em torno de uma moça branca recém-saída da faculdade que, em pleno Mississippi dos anos 1960, resolve escrever um livro dando voz às empregadas negras da sua cidade, tratadas como seres inferiores pelas patroas brancas. Apesar de certo maniqueísmo — as negras são invariavelmente sábias e batalhadoras, as brancas, inúteis e sem noção, quase caricaturais — o livro é ágil, bem escrito, ótimo de ler. Agora estou louca para ver o filme.

“Precisamos falar sobre o Kevin”, de Lionel Shriver (Intrínseca, tradução de Beth Vieira e Vera Ribeiro), é, dos nossos quatro livros de cinema, o mais pretensioso — o que faz dele, igualmente, o mais irritante. Eva, mãe de Kevin, um adolescente sociopata que promoveu uma carnificina na escola, relembra a sua relação com o filho numa série de cartas para o ex-marido. O truque é fraudulento, porque alguém que acompanhou aquela relação não precisa da maior parte das informações recebidas, que se destinam, de fato, ao respeitável público. Ao mesmo tempo, o que poderia ser um interessante questionamento sobre a falta de amor entre pais e filhos se perde por causa da mão pesada de Shriver, que pinta Kevin como um monstro desde bebezinho. Ainda assim, o livro é altamente legível, sobretudo para quem gosta de uma boa dose de horror: devorei suas 463 páginas em dois dias, mas confesso que não tenho nenhuma vontade de ver o filme.

“Compramos um zoológico”, de Benjamin Mee (Objetiva, tradução de Angela Pessôa) e “Os descendentes”, de Kaui Hart Hemmings (Alfaguara, tradução de Cássio de Arantes Leite) têm, curiosamente, um ponto em comum: os dois são narrados por homens que perdem as esposas no decorrer da ação. Tirando isso, não podiam ser mais diferentes, até porque “Compramos um zoológico” é autobiográfico, ao passo que “Os descendentes” é ficção — o que, de quebra, serve para provar que a vida real tem, por vezes, enredos mais interessantes do que o mundo da fantasia. Se você gosta de histórias de bichos e de humor britânico, não pense duas vezes, e compre este zoológico para aproveitar o feriado. Já “Os descendentes” é um romance competente que tem, pelo que fiquei sabendo, uma grande vantagem sobre o filme: não tem trilha sonora.
"

sexta-feira, 10 de fevereiro de 2012

Os livros no rebuliço

Ponto de vista - 10 fev. 2012

Sobre o projeto Estação Leitura, que publicamos no dia 31 de janeiro: Hoje a coluna do Ancelmo Góis, publicada na página 20 d'O GLOBO, conta que a biblioteca sofreu com o quebra-quebra em meio a protestos de usuários contra o mal serviço prestado pela Supervia. Os grifos são nossos:


"Paradoxo do trem

A Estação Leitura, serviço gratuito de empréstimo de livros inaugurado na Estação de Madureira, em janeiro, foi toda destruída no rebuliço de ontem nos trens do Rio.

Uns 300 livros foram roubados. Só restaram dois — “Melhores contos de Moacyr Scliar” e “Cidade Maravilhosa”, de Ivan Jaf. Aliás, três, pois, passada a confusão, um usuário devolveu “Paradoxo do Tempo”, de Philip Zimbrado e John Boyd."

terça-feira, 31 de janeiro de 2012

Livros e sacolas

Ponto de vista - 31 jan. 2012

Trazemos três notas de Amelia Gonzales, publicadas hoje na coluna "Notas", das páginas 8 e 9 do caderno "Razão Social" do jornal O GLOBO . A primeira trás uma boa notícia e as outras duas um alerta. Os grifos são nossos:


"Estação Leitura

Quem passar de trem pela estação de Madureira, subúrbio do Rio, já pode pegar um livro para ler na viagem. O lugar tem urna Estação Leitura, serviço de empréstimos de livros gratuitos, com 150 títulos, cada um com três exemplares. Para fazer o cadastro, é só levar documento de identidade e comprovante de residência. É uma parceria da Oldemburg Marketing Cultural, da SuperVia e da Nestlé e funcionará das 9h às 19h.


Fora sacolas

Cerca de 80% dos supermercados de 120 cidades de São Paulo deixarão de distribuir sacolinhas plásticas. Os clientes poderão levar os produtos em caixas de papelão, bolsas retornáveis ou pagar R$ 0,20 por plástico biodegradável. A decisão faz parte de acordo da Associação Paulista de Supermercados (Apas) com o governo do estado. Jundiaí foi a primeira a adotar a medida.


Fora sacolas I

Exemplo de que uma solução tem vários lados: embora as sacolas plásticas sejam ambientalmente problemáticas, uma análise de laboratório encomendada pela Plastivida mostra que, entre elas, as caixas de papelão e as ecobags, as que mais apresentam risco de contaminação dos usuários por bactérias são as caixas, seguidas pelas ecobags, em função da reutilização.
"

sexta-feira, 6 de janeiro de 2012

O destino do Livro entre Pokémon, Backyardigans e tamagochis

Ponto de vista - 06 jan. 2012

Revirando recortes de jornais guardados, encontrei um ótimo artigo intitulado "O futuro dos livros", da autoria de James Warner, publicado na página 3 do caderno "Prosa & Verso" d'O GLOBO de 21 de maio de 2011.

Será que ele acertará em suas insólitas previsões? Só o tempo dirá.



"2020: Todos os livros serão multiplataforma e interativos

Os “livros” do futuro serão agrupados com trilhas sonoras, leitimotivs musicais, gráficos em 3-D e vídeo em streaming. Serão aprimorados com marcadores de página coletivos, namoro online e alertas emitidos por aplicativos sociais geolocalizados a cada vez que alguém na sua vizinhança comprar o mesmo livro que você — qualquer coisa desde que você não precise de fato ler a coisa. Autores vão fazer seu próprio marketing, o leitor será responsável pela distribuição, a sabedoria das multidões se encarregará da edição e a mão invisível do mercado vai cuidar da escrita (se houver alguma). Escritores reagirão tornando-se virais ou animais.

2030: Todos os livros serão financiados em crowdsourcing e armazenados na nuvem

Romancistas vão começar elaborando seus personagens na forma de séries de bonecos de vinil. Se eles gerarem um boca-a-boca razoável, fãs produzirão o romance colaborativamente como um wiki. Conforme você estiver lendo, câmeras termais medirão seus sinais fisiológicos, incluindo oscilações no movimento ocular, contrações dos músculos faciais e batimentos cardíacos, para determinar que rumo você deseja que a história tome em seguida — será esperado que ela leia a si mesma, explique-se e combine de modo não intrusivo no diálogo as mensagens de texto que você for recebendo. Você também será capaz de ajustar com precisão a figuração digital dos personagens, de atirar neles, e (quando imperativo) de entregar-se ao cybersexo. Se um romancista for descoberto postumamente, seus bonecos de vinil podem acabar se tornando itens de colecionador.

2040: Autores serão como tamagochis

Tendo determinado que o que os leitores buscam é um “sentimento de conexão”, editores vão organizar campanhas adote-um-autor, reposicionando escritores no estilo dos Backyardigans e outros animais de estimação imaginários. “Alimentar” seus autores favoritos comprando seus livros fará com que seus avatares virtuais fiquem menos pálidos e entediados. Se eles morrerem de fome sob sua guarda você perderá pontos nas redes sociais. Clubes do livro cultivarão com seus escritores favoritos o mesmo tipo de vínculo caloroso, aconchegante e orgânico que um treinador desenvolve com o seu ou sua Pokémon, um processo que culminará em encontros de luta-até-a-morte entre seu autor e o autor patrocinado por outro clube do livro. Essas lutas ocorrerão offline, já que ainda haverá uma ou duas livrarias existentes, e alguma coisa vai ter que acontecer por lá.

2050: A leitura analógica será simulada digitalmente

À medida em que as pessoas passarem mais e mais tempo imersas em jogos de RPG multiplayer online, elas começarão a ansiar por algum tempo desconectadas. Mundos virtuais começarão a incluir “bibliotecas” onde você poderá se refugiar. Lá você poderá entrar numa banheira virtual e confortavelmente folhear um daqueles tomos puídos — baseados em narrativa linear no estilo velha guarda — que a essa altura já terão sido proibidos no mundo real. Serão reproduzidas perfeitamente a sensação de virar as páginas, as dobras na lombada e o ocasional corte no dedo. Por volta de 2052, 95% da atividade de 73% dos gamers se passará num desses esconderijos, já que eles serão o único lugar onde será possível escapar da incessante construção de comunidades e da conectividade que então será considerada um aspecto enervante da realidade offline.

2060: Livros físicos farão uma reentrada em contextos inconvenientes

Com material impresso tornando-se cada vez mais difícil de encontrar, o Arquipélago dos Antiquários será um popular show de infotainment, estrelando arquivistas com armamento pesado teleportando-se de ilha para ilha em busca de raros tesouros. Enquanto isso novos livros impressos ainda serão lançados — na forma de sobrecapas feitas de fungos comestíveis — como joias faux-antique em Feiras da Renascença e eventos de reencenação histórica nostálgica assemelhados. O último bibliófilo atravessará a cidade em estupor, perguntando-se o que aconteceu com as livrarias. Enquanto isso todo o conhecimento humano será gravado num chip e enviado para o espaço sideral por alunos da quinta série, como estratégia para se livrar do dever de casa.

2070: Nós todos viraremos cyborgs

Novas interfaces entre o cérebro e o computador redefinirão a narrativa, à medida em que eletrodos implantados no neocórtex induzirem histórias a tomarem forma, sem intervenção de terceiros, como alucinações duradouras. Eis que os “leitores” do futuro passarão a maior parte do tempo num estado de evasão epiléptica. Inteligências artificiais usarão o reconhecimento de padrões estruturais profundos, modelagem preditiva e teoria da informação para garantir que cada novo estado de transe seja popular o bastante para ser votado ao topo das plataformas mais quentes de ranqueamento de conteúdo. Nanorobôs em nossa corrente sanguínea vão nos informar como devemos nos comportar, coordenando nossas ações com informações em tempo real de marketing e tendências comportamentais e atitudiais, até que o próprio conceito de individualidade seja reconfigurado, resultando na morte do pensamento independente e na eliminação de muitos de nossos descendentes por vírus mentais interpessoais.

2080: Uma era de ouro de fluidez informacional

Em reconhecimento àquelas pessoas em debates sobre o-futuro-do-livro — há sempre uma dessas, por algum motivo — que insistem que o importante no fundo não é o texto mas o cheiro do livro, livros estarão a essa altura disponíveis apenas como linhas de perfumes. Em seguida, os seres humanos se transformarão numa espécie com um poderoso sentido olfativo, capaz de ler debaixo d’água decodificando sequências de feromônios. A bibliografia-em-aroma será triunfante, à medida em que vastos épicos forem compostos para receptores de fragâncias recentemente desenvolvidos, transformando os mares em elevação numa gigantesca solução de conteúdo transmídia produzido comunitariamente. Também por essa época, a literatura oral dos golfinhos será decifrada e acabará, inexplicavelmente, por ser toda ela sobre vampiros.
"

*
James Warner é escritor, autor de “All Her Father’s Guns” (um livro de verdade!). Mais informações em Texto publicado originalmente na revista McSweeney’s.

segunda-feira, 2 de janeiro de 2012

2012 com amor e pé no chão

Ponto de vista - 02 jan. 2012

Para iniciar um novo ano e renovar as esperanças, trazemos o artigo de Chico Alencar intitulado "O novo em nós", publicado na página 20 d'O DIA de hoje. Desejamos um 2012 de conquistas e superações aos nossos leitores. Os grifos são nossos:


"Calendário é engenhosa invenção para contar o tempo. Sua serventia maior é nos estimular a fazer o balanço do já vivido e estabelecer metas para o que virá.

O tempo da História não é igual ao nosso. Essa ‘senhora’ elegante e distante, não nos dá muita bola. É velha mestra de alunos desatentos, quando não ‘matadores’ de suas aulas! Mas se nem sempre podemos mudar esse mundo tão desigual, que ao menos consigamos nos transformar, no plano pessoal.

Aprendo com pessoas iluminadas, que encontrei na estrada da vida, a caminhar com calma bovina e leveza de passarinho. É necessário ter determinação de onça na ‘caça’ dos nossos ideais, mas combiná-la com a gratuidade do riacho em que ela vai beber água. Só assim não seremos contaminados pela doença do século, a ansiedade.

Ser flor do campo, que se basta com sol e chuva, e não inveja os outros elementos. Viver em harmonia: saber-se pedra, árvore, húmus, nada ter a perder. Fraternizar-se com os que têm patas e asas, pulsar com tudo o que pulsa, enquanto o ‘tambor do peito, amigo cordial’ mantiver o ritmo.

Como a ave do caminho, cuidar de ser saudável: espírito e matéria na comunhão que a sociedade compartimentada nega. Malha-se o corpo para a vaidade, não para a saúde, e ‘engorda-se’ a alma com antidepressivos.

Chamar de volta o trapezista dos circos da nossa infância: com equilíbrio, nada em nós exagerar ou excluir. Fazer do necessário o suficiente e viver mais simplesmente, para que simplesmente todos possam viver. Resistir ao consumismo que nos consome.

Pés no chão, firmes e suaves, descalços de preconceitos e maledicências, buscar o que nenhuma tecnologia ultramoderna da comunicação oferece: conectar-se ao todo-poderoso Amor!"

* Chico Alencar é professor e deputado federal pelo PSOL

quarta-feira, 28 de dezembro de 2011

Os Arquivos de Sherlock Holmes - resenha



Os arquivos de Sherlock Holmes
Sir Arthur Conan Doyle
Martin Claret
228 páginas. R$ 17,50.
www.martinclaret.com.br


“... era brasileira de nascimento... Filha do sol e da paixão. Ela o amou como só essas mulheres podem amar.” (O problema da ponte Thor)

Assim Arthur Conan Doyle, um escritor e médico nascido em Edimburgo (Escócia) no ano de 1859, descreve a única personagem brasileira da obra que resenhamos. A fama desse autor deve-se, certamente, por suas obras cujo personagem principal é o detetive Sherlock Holmes; embora, além da literatura criminal, também tenha escrito peças de teatro, poesias e obras de não-ficção; entre outros gêneros.

“Os arquivos de Sherlock Holmes”, publicado pela editora Martin Claret, é uma tradução de Casemiro Linarth da obra de título original “The Case-Book of Sherlock Holmes”, uma coleção de contos publicados pela primeira vez entre 1921 e 1927 em revistas da Inglaterra e dos EUA. Foi a derradeira obra do autor sobre Sherlock Holmes, personagem o qual ele já havia “matado” em 1893, mas que decidira “ressuscitar” em 1903, após uma enxurrada de apelos de seus fiéis leitores.

Como nos quatro romances e nos outros quatro contos que formam o chamado cânone do personagem, ficamos em grande expectativa durante o desenvolvimento da narrativa, tentando, nós mesmos, encontrar as pistas e desvendar os mistérios; mas o grande detetive sempre nos surpreende. Sherlock Holmes é sempre procurado por seus clientes devido a sua fama e reconhecimento. No conto “Os três Garriders”, o personagem seu amigo, dr. Watson, narra que Holmes teria recusado o título de cavaleiro em 1902. Uma brincadeira perspicaz, pois foi exatamente o ano em que o autor do conto foi condecorado com tal título, passando a ser chamado de Sir Arthur Conan Doyle.

Chama-nos atenção, como casos, digamos, excepcionais, que dois contos são narrados pelo próprio protagonista, Sherlock Holmes: “O soldado pálido” e “A juba do leão”. O ritmo da narrativa é bem diferente dos casos narrados pelo seu (quase) inseparável amigo, Watson. Também damos destaque, neste último conto citado, ao trecho em que o sisudo celibatário Sherlock Holmes se encanta por mulher:

“Não se podia negar que ela embelezaria qualquer reunião no mundo. (...) Raras as vezes senti atração por mulheres, pois o cérebro sempre governou o meu coração, mas me bastou olhar aquele rosto perfeitamente delineado, delicadamente colorido pelo frescor suave das terras baixas, para compreender que nenhum jovem poderia atravessar-se no seu caminho e sair ileso”.

As mulheres ibero-americanas por sinal, com suas personalidades fortes, ganham destaque do autor em três contos: A brasileira citada no início, uma peruana (O vampiro de Sussex) e uma outra espanhola cuja família “governou Pernambuco durante gerações” (Os três frontões).

“A inquilina do rosto coberto” é um conto muito perspicaz, que foge de qualquer padrão pelo seu desfecho; pois nele Holmes age de forma diferente. No mesmo conto, e num outro (O velho solar de Shoscombe), alguns crimes não são necessariamente punidos.

Holmes, como conhecemos de outras obras, não se importa em receber os créditos por decifrar os mistérios, mas trabalha mesmo pelo desafio mental do método da lógica dedutiva. No ótimo conto “Cliente Ilustre”, o que o motiva é o desafio:

“Se é mais perigoso que o Prof. Moriarty vale a pena conhecê-lo”.

Não é a toa que CSI é a série mais vista em todo o mundo nos dias de hoje. Tal qual Batman, o famoso herói dos quadrinhos e do cinema, tiveram no personagem Sherlock Holmes sua referência; e conquistam mais fãs a cada dia.

Perto da estréia de mais um filme sobre Sherlock Holmes no cinema, recomendamos a leitura da obra do Sir Arthur Conan Doyle. Sempre, sempre o livro será melhor. O hábito de leitura nunca deve ser deixado de lado, preterido pela televisão ou pela tela grande. O personagem Sherlock Holmes, inclusive, valoriza a cultura geral... De tudo se dever ler um pouco. Em vários contos, ele encontra nos livros as chaves para desvendar os mais intrincados mistérios:

“Sou um leitor que devora tudo. (...) Eu sabia que tinha lido em alguma parte num contexto inesperado.” (A juba do leão).

Assim também o é em nossas vidas. O livro muda as pessoas porque as ajuda a decifrar o mundo.

sábado, 24 de dezembro de 2011

Feliz Natal, como no ano passado

Ponto de vista - 24 dez. 2011

Na véspera do Natal deparei-me com a deliciosa crônica de Zuenir Ventura, intitulada "Tudo sempre igual", publicada na página 7 d'O GLOBO de hoje; que, por isso, publico aqui. Deixamos, também, os nossos votos de um Feliz e hamornioso Natal. Os grifos são nossos:


"Vou me repetir mais uma vez. Todo ano é assim, parece reprise. Mas o que se há de fazer, se tudo nessa época é repetitivo: a música, a rabanada, os amigos-ocultos, os presentinhos, os votos, os engarrafamentos, o movimento das lojas, sem falar no dinheirinho compulsório para os porteiros, o mendigo de estimação, o guardador de carro, os entregadores de jornais, de remédio, de pizza, garis e carteiros. Contrariando o que dizia o famoso soneto de Machado de Assis —"Mudaria o Natal ou mudei eu?" — não mudou o Natal nem mudei eu. Ainda por cima, a data cai sempre nos dias em que tenho de escrever ou publicar coluna: no próprio dia 25, como em 2010, e na véspera, como agora. Como evitar o tema?

A exemplo dos Natais anteriores, o tempo e a paciência foram poucos para cumprir todos os compromissos de fim de ano, já não digo de compras, que minha mulher faz, mas o atendimento de convites. Parece que todos os lançamentos, todas as noites de autógrafos, todas as exposições, todos os almoços e jantares de confraternização foram deixados para acontecer nesse período. Não poder ir a todos, ter que escolher uns em detrimento de outros é uma das aflições dessa época. Mas o pior do Natal é sua submissão ao consumo, o que acaba fazendo dele "um orçamento", como já dizia Nelson Rodrigues.

Graças a isso, é a mais colonizada de nossas principais efemérides, a começar pelo Papai Noel. Não há figura mais inverossímil e anacrônica, inclusive pelo traje, do que o bom velhinho todo agasalhado, com aquele gorro ridículo, arrastando o saco nas costas no calor deste começo de verão e rosnando "Rou, rou, rou". No entanto, continua popular. Piegas e cafona, mas popular, mesmo entre os que não acreditam nele. Por que será? Talvez seja porque, se o réveillon é a euforia, e o carnaval, a orgia, o Natal é o eterno retorno à infância — o momento da fantasia, do faz de conta.

A verdade é que, apesar do desvirtuamento de sentido, a data continua impregnada de simbologia e significados, carregando sonhos, desejos e esperança, tudo do que se precisa. Eu, por exemplo, não consigo deixar de fazer uma viagem nostálgica a um longínquo passado sempre que ouço o "Noite feliz". É como se, ainda coroinha, estivesse ajudando uma missa de meia-noite rezada em latim, claro, no colégio de padres de Ponte Nova, em Minas Gerais.

Comecei repetindo e vou terminar da mesma maneira, desejando para vocês um nada original, mas sincero feliz Natal."

quinta-feira, 15 de dezembro de 2011

Quantos livros você lê por ano?

Ponto de vista - 15 dez. 2011

A matéria de André Miranda, intitulada "O longo caminho até as metas do MinC ", publicada na página 12 do Segundo Caderno d'O GLOBO de hoje, sobre o anuncio das metas do governo federal expressas no Plano Nacional de Cultura, dá números alarmantes sobre a falta de hábito de leitura do brasileiro em geral. A média de livros lidos anualmente, digamos, por prazer, não chega a dois; quando o mínimo ideal, seriam quatro. Os grifos são nossos:


"[...] uma das metas do PNC [Plano Nacional de Cultura] é que todos os municípios brasileiros tenham uma biblioteca pública. Até o fim do ano, de acordo com a Fundação Biblioteca Nacional, apenas 18 dos 5.565 municípios brasileiros ainda não terão recebido o kit para a implantação de suas bibliotecas, o que deve acontecer em 2012. A partir do recebimento do kit, os municípios têm três anos para implantar sua biblioteca. Atualmente, há 5.530 bibliotecas públicas no país.

Além da presença física, outra meta do PNC é que cada brasileiro leia quatro livros por ano, sem contar aqueles do aprendizado formal.

— Para se chegar à meta, será preciso trabalhar muito. Hoje, a média é de 1,3 livro lido por ano entre não estudantes — afirrna Galeno Amorim , presidente da Biblioteca Nacional.— Mas é possível. Ao criarmos mais bibliotecas, ampliarmos os pontos de venda e baratearmos os preços, o índice de leitura vai aumentar — promete."

domingo, 11 de dezembro de 2011

Livros: afeto e provocação

Ponto de vista - 11 dez. 2011

Ansioso para ler "O Cemitério de Praga" (Record, 480p.), gostei muito da entrevista concedida pelo escritor Umberto Eco ao jornalista Guilherme Aquino, publicada hoje na página 4 do Segundo Caderno d'O GLOBO sob o título "O mestre dos livros". Destaco as respostas para duas perguntas da dita entrevista. Os grifos são nossos:


"O senhor gosta de desafiar o leitor com fatos e palavras...

- Somos 7 bilhões no mundo, então o número dos meus leitores é mínimo, mas alguns querem um desafio, querem que um livro seja uma provocação para a inteligência, um esforço. Os editores acham que o leitor quer coisas fáceis. Mas, para isso, ele já tem a televisão. Ninguém consegue explicar por que o único livro fácil que escrevi, "A misteriosa chama da Rainha Loana" (2004), não interessou a ninguém. Tudo chega mastigado. Escrevo para os masoquistas que querem ser maltratados.


Qual é a sua relação com a tecnologia? Acredita que o livro em papel resistirá?

- O livro de papel tem ainda um destino a ser cumprido, pelo menos no sentido técnico. Temos a prova científica de que um livro de papel dura 550 anos. Eu tenho na minha biblioteca livros produzidos cinco séculos atrás. Não temos ainda a capacidade de provar que um material eletrônico dure mais do que X anos, mas certamente não será de 500 anos, porque existe uma renovação contínua. Há ainda o fato de que você encontra no porão de casa o livro que leu quando tinha 10 anos, com os seus sinais nas margens... Se amanhã encontrar no porão um pen-drive, ele não vai lhe dizer nada. Com o livro, se estabelece uma relação física, carnal, afetiva. Enfim, é muito melhor para uma criança levar para a escola um iPad com os dicionários do que levar todos os volumes nas costas. Mas é muito difícil ler "Guerra e paz" num e-book. Com o tempo, mudei levemente de opinião. Recentemente fiz viagens de 20 dias e levei 20 livros pesados. Na segunda vez, carreguei 20 livros no iPad."

segunda-feira, 5 de dezembro de 2011

Tempo desperdiçado deve ser indenizado

Ponto de vista - 05 dez. 2011

Muito útil para consumidor a matéria assinada por Nadja Sampaio, intitulada "Livro defende indenização por desperdício de tempo ", publicada na página 42 do d'O GLOBO do último Domingo sem o destaque que merecia. Os grifos são nossos:


"Existe um novo e relevante dano no mercado de consumo, que até agora foi desprezado pelo Direito: o tempo que o consumidor perde para reclamar seus direitos deve ser indenizado, pois tem um impacto negativo na sua vida. A tese defendida pelo advogado Marcos Dessaune no livro "Desvio produtivo do consumidor" diz que este, quando precisa resolver uma reclamação, vê-se forçado a desperdiçar seu tempo - desviando-se de atividades como trabalho, estudo, descanso, lazer - para tentar resolver problemas que o fornecedor tem o dever de não causar.

Ter que retornar diversas vezes à loja ou à assistência técnica para reclamar de um produto com defeito pouco tempo depois de comprado: telefonar insistentemente para o SAC de uma empresa para cancelar um serviço não solicitado ou urna cobrança indevida e levar o carro várias vezes à oficina são alguns exemplos citados no livro.

- Tais situações corriqueiras ainda não haviam merecido a devida atenção do Direito brasileiro. Embora causem grande prejuízo ao consumidor, trata-se de fatos lesivos que não se enquadram nos conceitos tradicionais de dano material indenizável, de perda de uma chance, tampouco podem ser banalizados como meros dissabores ou percalços na vida do consumidor, como vêm entendendo muitos juízes e tribunais - explica.

Segundo Dessaune, a missão de qualquer fornecedor é oferecer produtos e serviços de qualidade, condição essencial para que o consumidor possa empregar seu tempo nas atividades de sua preferência.

- Constatei em minha pesquisa que o tempo de que a pessoa dispõe na vida caracteriza-se pela escassez, inacumulabilidade e irrecuperabilidade. Trata-se do bem primordial e possivelmente mais valioso da pessoa, só comparável à sua saúde física e mental. Segundo averiguei, o novo paradigma de investigação do dano injusto em lugar do tradicional ato ilícito, no âmbito da responsabilidade civil contemporânea, possibilitaria a ampliação das hipóteses de danos indenizáveis, como as situações de desvio produtivo do consumidor— diz."