domingo, 7 de agosto de 2011

Estrangeiro em toda parte

Ponto de vista - 07 ago. 2011

Cara errada

Sensacional o artigo de João Ubaldo Ribeiro, hoje, na página 7 d'O GLOBO; intitulado "Vida arriscada". Quem viaja, entende bem o que é isso:

"(...) O noticiário norueguês me lembra outra vez de que tenho a cara errada em toda parte. Tenho cara de turco na Alemanha, cara de árabe na França, cara de hispano nos Estados Unidos, cara de latino-americano na Espanha, cara e fala de brasileiro em Portugal, cara de nordestino, cara de mestiço, um desastre em toda a linha. Mas não será por isso que eu vou desistir de viajar. (...)"

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"Prioridade zero" do governador. Onde nós vamos parar?

A carta de um leitor, intitulada "Educação para quê?", publicada na página 8 d'O GLOBO, uma conclusão que deveria ser levada em conta com maior seriedade pelos eleitores do Estado do Rio de Janeiro. O grifo é nosso:

"Milhões são gastos na centésima reforma do Maracanã. Outros milhões gastos com o sorteio das eliminatórias da Copa do Mundo. Muito dinheiro gasto com futebol, pensando (na melhor hipótese) no lucro do turismo (curto prazo). Gastar em educação, não. Afinal, estes caras só são professores: não aprenderam a jogar futebol. Educação não é prioridade para o governo do Estado do Rio de Janeiro.
Luiz Almeida (Rio)"

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Luz no fim do túnel contra clientelismo?

Enquanto a principal reportagem do Extra Online de hoje ("Centros sociais: vereadores da Baixada prestam por ano 68.640 atendimentos") constata a força do clientelismo na política da Baixada Fluminense - onde esse número de atendimentos "equivale a 22% do que é realizado nos postos de saúde municipais localizados nas mesmas áreas dos chamados 'prontos-socorros eleitorais'"; o editorial d'O GLOBO (p. 6) consegue enxergar uma pequena luz no fim do túnel, a partir da ação de certos movimentos de resistência cujas ações ajudam no amadurecimento do eleitorado. O grifo também é nosso:

Interior do Rio reage ao clientelismo

O interior do Estado do Rio tem decepcionante histórico de ações clientelistas que produz personagens dos quais é mais fácil extrair prontuários do que boas ideias e exemplos de serviços prestados à sociedade. Denúncias de desvios de verbas, abuso de poder, nepotismo, cobrança de propinas em licitações públicas, superfaturamento de contratos, propaganda indevida, irregularidades em compras de merenda e material hospitalar são temas recorrentes quando se faz um balanço da atuação de políticos que, eleitos à custa da boa-fé dos eleitores, acabam perpetuando no exercício dos mandatos práticas que atentam contra a ética e levam invariavelmente ao caminho dos cofres públicos.

Pois é desse cenário nebuloso que têm soprado ventos de renovação no modo de se exercer a representatividade. Não da parte dos maus protagonistas de sempre da cena política, mas graças ao despertar de outros atores — no caso, a sociedade organizada em suas entidades e protegida por organismos institucionais de fiscalização como o Ministério Público, o TCE e controladorias. Trata-se de saudável, oportuna e fundamental reação a práticas deletérias na administração pública, com resultados estimulantes.

Em Teresópolis, um dos municípios devastados pelas enchentes do início do ano, consolidou-se, com o afastamento do prefeito Jorge Mário (ex-PT), um movimento de resistência local contra uma administração atolada em denúncias de desvio de verbas destinadas à recuperação da cidade arrasada pelas chuvas, fraudes em licitações e outras deletérias rubricas.

Em Magé, capitania da família Cozzolino, o arejamento político custou o cargo à prefeita Núbia Cozzolino, cassada por malfeitos no Executivo municipal, e substituída na eleição de um representante da oposição. Em Nova Friburgo, as suspeitas de malversação de recursos levaram à convocação de uma CPI na Câmara local, à entrada em cena do Ministério Público Federal, que chegou a solicitar à Justiça o afastamento do prefeito Dermeval Barboza, e até à mobilização de agentes da Polícia Federal para garantir a entrega de documentos exigidos por procuradores federais para analisar contas municipais. Já em Petrópolis, os últimos seis meses mostraram um alto nível de mobilização popular, em torno de um manifesto capitaneado pela diocese local que cobra rapidez na reconstrução das áreas atingidas. Desse movimento surgiu a Frente Pró-Petrópolis, e há também ações diretas da Igreja de assistência às vítimas das enchentes.

São exemplos de que a vigilância da sociedade é capaz de mudar maus hábitos, e particularmente animadores num momento político do país em que a ética e a honestidade não são valorizadas na vida pública. Os MPs, os tribunais de contas e demais órgãos de controladoria, bem como entidades não contaminadas por interesses partidários oportunistas, são legítimos instrumentos de pressão contra autoridades que, fechadas as urnas, nelas deixam enterrados os compromissos eleitorais. Que esses movimentos de resistência no interior fluminense sejam dinâmicos o suficiente para barrar o clientelismo local, servir de paradigma a outras regiões brasileiras e ajudar no amadurecimento do eleitorado.

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