sexta-feira, 12 de agosto de 2011

JK e a herança dos engarrafamentos

Ponto de vista - 12 ago. 2011

Destaco, do jornal O GLOBO de hoje, o artigo do colunista de Arthur Dapieve, intitulado "Faixa seletiva. Onde a Brasil é mais Brasil". O excesso de carros circulando pelas ruas, o que gera incessantes tráfegos e acidentes fatais, seriam originários da política iniciada pelo presidente JK. Muita gente ganhou e muitos continuam ganhando. O ideal seria investir investir nos sistemas ferroviário e metroviário como transporte de massa e as pessoas deixarem seus carros em casa. Mas isso acontecer, são outros quinhentos... Incomodaria quem sempre ganhou com a situação e também atrapalharia o sonho dos emergentes desde as classes mais baixas; do dono do carrão importado, ao do trabalhador mais humilde que sempre economizou para ter seu carro. Vai dizer para ele deixar o carro em casa e ir de trem... O grifo é nosso:

"(...)

Com a quantidade de veículos que desde a década de 1950 chega às nossas ruas, ora mais, ora menos, nunca haverá malha viária suficiente para acolhê-los. Que dizer de fazêlos andar a velocidade razoável... Talvez apenas se derrubarmos todas as outras construções e passarmos todos a dormir, trabalhar, ver cinema, jogar bola, viver sobre rodas. Uma sociedade hiperdesenvolvida para voltar a ser nômade.

O pecado original está lá atrás, na opção de Juscelino Kubitschek pela indústria automobilística como motor do desenvolvimento que ele vislumbrava para o Brasil. Com nossas dimensões territoriais e populacionais, muito mais atenção deveria ter sido prestada aos trens e demais formas de transporte coletivo, é o óbvio ululante.

Creio, entretanto, que optou-se pelo carro particular não só como um meio de transporte, mas também de desmobilização política. O individualismo intrínseco à posse de um veículo dificulta a articulação — inclusive dos próprios motoristas particulares — em prol dos interesses da coletividade — ou, ao menos, de uma fatia dela.

É muito difícil, para não dizer impossível, voltar atrás nessa história. Soaria como mais intromissão do Estado nos direitos do cidadão. E, com a ascensão da Classe C, do cidadão que tem o direito de sonhar. Além disso, a indústria automobilística carrega não apenas esse sonho de afluência, mas também a sanha tributária do Estado.

Ganha-se tanto dinheiro em impostos sobre veículos e combustíveis, e desvia-se tanto dinheiro público na construção e reconstrução de ruas e estradas, que seria mesmo muito ingênuo acreditar em mudança de política a essa altura do campeonato. Quando a economia mundial ameaça congelar, como agora, o governo corre a desonerar a produção de automóveis, o que só reforça o quadro de “carrodependência” pátria. Por outro ângulo, ela se reflete em algo em torno de cem mortes diárias no trânsito.

Não, não vale o papo de que “uso carro porque o transporte público é péssimo”. Sim, isso é tão verdadeiro quanto “o transporte público é péssimo porque uso carro”.

Nenhum comentário: